1. William Wilson – o conto sobre o duplo
Há um espectro[1] no caminho de William Wilson, ou do sujeito que se auto-intitula desta forma. Não se trata de um fantasma comum, espírito desencarnado ou entidade descrita em livros de terror como aparição, alma-penada e similares. Este vive, caminha e mantém-se insistentemente próximo do personagem-narrador, com sua voz quase inaudível, “um nível acima de um sussurro muito baixo”. O que há de estranho neste indivíduo, e que torna sua presença algo semelhante ao fantasmagórico, é o fato de ele ser incrivelmente parecido com o protagonista desta história, escrita por Edgard Allan Poe em 1839, quando tinha 30 anos de idade.
As similitudes não param por aí. Ambos, narrador e espectro, nasceram no mesmo dia, entraram para a mesma escola, também no mesmo dia, parecem possuir o mesmo espírito mordaz, sagacidade acima da média e uma capacidade fora do comum de competir em todos os campos – dos estudos aos esportes. A rivalidade amplia-se quando se descobrem possuidores de outra característica comum, marca que ajuda a definir mais claramente a índole do personagem-narrador: a inteligência de ambos permite exercer forte influência sobre os intelectos mais frágeis. Isto tornaria possível conduzir o projeto de ludibriar, sobrepujar e levar vantagem em todas as circunstâncias da vida social, não fosse a atuação de William Wilson, este “outro” que chega para anular o narrador.
Ele é a causa de seu desespero, existe apenas para impedi-lo de agir guiado por seu mau-caráter, restabelecendo o equilíbrio de suas relações com as outras pessoas. Se Wilson é dotado da mesma capacidade […]
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[1] A epígrafe do conto reproduz um trecho de Pharronida, de Chamberlain: “Que hei de dizer a respeito disso? Que tem a dizer a severa CONSCIÊNCIA, esse espectro em meu caminho?”
Fonte: Artigo publicado na Revista COMUM, publicação das Faculdades Integradas Hélio Alonso, Janeiro/Junho de 2007, v.12 – no. 28, ISSN 0101-305X
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