1. Alice e os significados perdidos
Em 4 de julho de 1862, um barco a remo transportava o reverendo Charles Lutwidge Dodgson numa excursão pelo rio Tâmisa. Junto a ele, além do amigo Robinson Duckworth, estavam as três irmãs Liddell: Lorina Charlotte, de 13 anos; Alice Pleasence, de 10 anos; e Edith, de 8 anos. Cada uma recebeu um apelido, ao longo da viagem, respeitando a ordem de nascimento. Assim, Lorina foi denominada “Prima”, Alice “Secunda” e Edith “Tertia”. O evento não era algo incomum na vida daquelas pessoas, o reverendo acostumara-se a levar as irmãs Liddell em passeios pelo rio, alternando conversas e contos de fadas inventados em cada ocasião – e esquecidos nos momentos seguintes. Porém, Prima, Secunda e Tertia foram eternizadas num poema, que alude explicitamente àquela sexta-feira, naquela tarde de verão. E a história que povoou a imaginação das três meninas foi anotada, escrita e reescrita, depois publicada pelo reverendo (1865), tornando-se um dos maiores clássicos da Literatura de todos os tempos. O poema e a história foram dedicados à Alice Pleasence Liddell. E as aventuras de Alice – no país das maravilhas e depois através do espelho – alçaram o pseudônimo Lewis Carroll à posição diferenciada na história da Literatura, marcada pelo pioneirismo no tratamento das situações e também pelo uso até certo ponto incomum do recurso do nonsense para o público infantil.
Sob o ponto de vista do tratamento, bem observa Ana Maria Machado (2001:199) que Lewis Carroll é o “fundador da literatura infantil de verdade, aquela que não fica querendo ensinar nada nem dar aulinha, mas faz questão de ser uma exploração da linguagem, matéria-prima de toda obra literária de qualidade”[1].
A importância dos livros de “Alice” pode ser medida pela quantidade de publicações, peças de teatro, filmes para cinema e tevê sobre a obra de Carroll, e mesmo pela profusão de artigos sobre o autor e sua história mais famosa em revistas acadêmicas na Inglaterra e no mundo todo. Esta observação é de Martin Gardner na Introdução à 2a edição de The Annotated Alice,a qual recebeu o nome de More Annotated Alice; no Brasil, foi recentemente publicada com o título “Alice: edição comentada” (CARROLL, 2002:xvii).
Sob o ponto de vista do nonsense, e também da construção simbólica, das invenções lingüísticas e da interpretação psicanalítica dos temas, a partir do centenário de nascimento de Lewis Carroll […]
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[1] Ver também nota à edição comentada de Alice em que Martin Gardner menciona os “contos de fada tradicionais, cheios de episódios de horror e em geral com uma moral piedosa. Ao pôr de lado a moral, os livros de Alice inauguraram um novo gênero de ficção para crianças”. Cf. CARROLL, 2002:16
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