Sobre o Futuro

A decretação da morte precisa ter a sua morte decretada. Por ser vã esta empresa, se a morte vem de surpresa, por mais que seja aguardada, abandonemos-na à sua própria sorte, deixemos a morte para trás, deixemos ela descansar em paz. Melhor que isso: vejamos como a vida é fugaz, tanto quanto as coisas vividas podem ter sua galhardia, falemos de televisão (que não morreu!), do livro (vivo, muito vivo) e de poesia. Ah, poesia! Dispersa, variada, precisa ou derramada – indecidível –, na pena de quem versa, na voz de quem ama, no canto das nações. Poesia não morre – poetas sim! Escorre aos borbotões, nasce dos laços humanos, cresce nos desvãos do tempo, dissolve tudo por um momento, para ser tão e simplesmente uma exaltação ou um lamento. Ou algo mais.

O debate, contudo, é importante! Para mexer com os espíritos, levantar dúvidas, parir pensamentos. Terá fim o poema? Mas se já fizeram o teste com o cinema, dizendo que estaria findo com a vinda do videocassete?! E o jornal impresso, então, acusado de obsoleto, sujo e anacrônico… ele foi esquecido quando inventaram o meio eletrônico? Raciocínio errado, porque a tevê não matou o rádio. Porque os corações ainda palpitam paixões, no enlevo do lirismo poético.

O debatedor mais arguto dirá: “o poema pode morrer sem deixar substituto”. Entendido está. Porém, resta a certeza de que, no pior dos mundos, degradado como esteja, o indivíduo traz lá no fundo o vigor de quem deseja, o ímpeto da expressão. Sobre o tema, não há nada comparável ao poema. A poesia não se extingue, hoje, amanhã, nem na próxima semana. Fiquemos com o Mário Quintana: O Poeta. “Venho do fundo das Eras, / Quando o mundo mal nascia, / Sou tão antigo e tão novo / Como a luz de cada dia.”


Professor universitário (Uerj e FACHA) e escritor. Nas horas vagas, músico. Aqui, um pouco de tudo: música, literatura, futebol, política e desimportâncias.

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